Recentemente li um relatório sobre Acessibilidade de sites encomendado pela Organização das Nações Unidas à Nomensa.
O estudo feito pela Nomensa em 2006 envolveu 100 sites de 20 países. O objetivo do relatório era obter uma visão geral da Acessibilidade Web no mundo e o resultado não foi nada surpreendente: 97% dos sites líderes selecionados pela Nomensa não alcançavam sequer o nível A do WCAG 1.0. Vale mencionar que entre os sites então analisados pela Nomensa estavam cinco brasileiros, são eles: www.tam.com.br, www.bb.com.br, www.folha.uol.com.br, www.presidencia.gov.br e www.americanas.com.br. Nenhum deles alcançou o nível A do WCAG 1.0.
Então veio minha pergunta, será que desde 2006 ninguém mais fez um estudo desse tipo? Seria interessante obter um dado atual desses considerando o WCAG 2.0, certo?
Bom, primeiro procurei bastante em relatórios, blogs e afins, mas não achei nada. Sendo assim decidi rodar um teste inspirado pelo relatório feito pela Nomensa para verificar como seria esse snapshot da Acessibilidade Web hoje envolvendo os 200 sites mais visitados do mundo.
Como foi feito
Para selecionar 200 sites com maior visitação no mundo recorri ao Alexa, site que conta com um link atualizado diariamente com os 1000 sites mais populares do mundo.
Uma vez selecionadas as 200 homepages, parti para escolher a ferramenta semiautomática de verificação das diretrizes de conteúdo do W3C, o WCAG 2.0. Para isso usei ATRC Checker, ferramenta estável que uso há alguns anos e que conta com uma gama interessante de diretrizes.
Por último faltava rodar a avaliação para todas as 200 homepages selecionadas e para isso usei um script do Selenium, ferramenta que discuti em outro post, para passar cada um dos links pela verificação default do ATRC Checker, isto é, Nível AA do WCAG 2.0, e verificar a existência de problemas conhecidos, ou seja, pontos identificáveis computacionalmente e, consequentemente, fáceis de resolver. Vale comentar que no Nível A as diretrizes são menos “exigentes”, já no nível AAA as diretrizes são bem mais estritas.
Como "bônus" aproveitei para rodar o Unicorn da WC3 para verificar se ao menos os códigos HTML e CSS 2.1 dessas homepages estavam válidos.
Resultados
Em suma, os dados que obtive foram os seguintes: 96% das 200 homepages mais populares do mundo contam com problemas conhecidos das diretrizes do WCAG 2.0 (Nível AA). Inicialmente achei que os resultados seriam desanimadores, mas não tanto assim, pois estamos considerando os sites mais populares e, consequentemente, os que, teoricamente, possuem maior receita.
No entanto, parece que os cuidados com Acessibilidade continuam ficando para segundo plano.
Em relação à codificação HTML e CSS 2.1, mais resultados desanimadores: 97% dos homepages avaliadas contavam com HTML inválido ou usando funcionalidades experimentais; em relação ao CSS 2.1 os resultados foram melhores, pois 93,5% tinham código CSS inválido.
Conclusões
Mesmo depois de 5 anos do relatório da Nomensa que indicou que a situação em relação à Acessibilidade Web era crítica, não tivemos grandes mudanças. Os testes que fiz estão longe de compor um estudo aprofundado sobre como a Web está em relação à Acessibilidade, mas é ao menos um indicativo de que grandes mudanças que esperamos e desejamos ainda não ocorreram.
Por fim, os problemas encontrados em relação à codificação também nos dão pista de que em muitos desses sites líderes não há validação frequente do código.
Voltarei a discutir sobre este assunto assim que me aprofundar nesses estudos e obtiver mais resultados interessantes.